terça-feira, 8 de março de 2011

Encontrando as perdas


Ao refletir sobre fatos recentes na minha vida, me vem à mente a frase “só damos valor àquilo que perdemos”. Tal frase se encaixa perfeitamente no indivíduo humano, se pararmos para analisarmos alguns detalhes.
Em nossa mísera existência, vivenciamos a perda todos os dias. Perdemos coisas insignificantes, como fios de cabelo, nutrientes corporais, a camada superficial da pele, a epiderme, se renova, nosso corpo secreta substâncias, perdemos o ônibus (!), objetos… Além de perdas mais dolorosas, como a de um emprego, de um ente querido ou de um grande amor.
Porém, quem de fato consegue enfrentar esta realidade em sua vida? Quem é maduro para poder encarar que em nossa vida material tudo é tão passageiro e fugaz quanto a vida de uma joaninha (ela pode viver de 3 a 9 meses!)?
Não conseguimos lidar com a perda de uma forma menos traumática, de forma geral. Caso contrário, não existiria o movimento literário Ultra-Romantismo, que tratava em uma de suas fases das dores do amor, da perda, do sofrimento do amor não correspondido, entre outros sentimentos melancólicos. Não existiriam milhares de músicas com a temática “dor de cotovelo” nem obras de arte inspiradas na dor e no abandono que a perda oferece como brinde para nós, reles mortais.
Não aceitamos a velhice e a consequente perda das proteínas colágeno elastina (fontes da juventude) e então entramos em uma busca desenfreada pela eterna beleza dos 20 anos. Não aceitamos engordar, graças aos padrões que a mídia impõe, não aceitamos “levar um fora”, em suma, não aceitamos a palavra “não”.
O ser humano, assim como algumas espécies de mamíferos, é um animal que pode adoecer por doenças emocionais. A tristeza constante gera a depressão, um grande mal dos nossos dias, uma doença que dilacera e corrói aos poucos a alma daqueles que  a adquirem. (Uso a palavra “adquirir” porque a depressão é como qualquer outra doença, como uma doença virótica, por exemplo. A diferença é que ela aniquila primeiro a alma para depois influenciar no funcionamento do organismo). Essas doenças emocionais podem advir da perda, de um conflito não solucionado ou de uma solução não encontrada para um determinado problema.
Somos sensíveis ao ambiente em que vivemos, temos a capacidade cognitiva e o raciocínio desenvolvido, porém, muitas vezes, somos incapazes de compreender o sentido de uma perda em nossa vida.
Para quem está vivo, a perda é inevitável, mas dela devemos tirar lições que se aplicarão ao cotidiano e serão responsáveis pelo nosso auto conhecimento e bem viver. Não se sabe o que ou quando a perda nos visitará, mas devemos estar prontos para tal realidade.
Só não temos solução ou explicação para a perda mais certa que temos, que é a perda da própria vida.

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